sexta-feira, 23 de março de 2012

Recordações da minha infância 2


Curau
Que euforia ficávamos, nós, as crianças, quando Tia Lide e Tia Dirce começavam a descascar as espigas de milho para fazer o curau. Vestindo seus alvos aventais, era tamanquinho para cá, tamanquinho para lá: toc...toc....toc... toc...
As duas sentavam-se num banquinho no quintal, ao lado as bacias: uma para as palhas e outra para as espigas. Eu e minha titia Ademilde, apenas três anos mais velha que eu, observávamos tudo atentamente, esperando o melhor momento: queríamos nos encharcar de curau e logo!
Mas aquele processo era demorado. Depois de devidamente lavadas, as espigas eram raladas , coadas e aí sim ia para a panela. Processo igualmente demorado. Mexe...mexe...mexe... cuidado, crianças, saiam de perto que podem se queimar, a fervura solta bolhas muito quentes.
Eu e titia não contínhamos nossa ansiedade e ficávamos pulando em volta, querendo experimentar, tentando burlar quando as titias saíam de perto. O aroma tomava toda a casa, embora a guloseima estivesse sendo feita no fogão de lenha do quintal, na rua podia se sentir o cheiro do quitute cozinhando.
As sobremesas, doces em calda, curau, pamonha, pudins, doces de abóbora com coco, de mamão verde, de batata doce, enfim, eram cozidos no fogão a lenha, bem como os salgados mais consistentes como o feijão, a feijoada, bife na chapa, assados, carne de caçarola...hummmm.  O fogão ficava em um lugar muito aconchegante no quintal, perto de um coarador onde nos sentávamos para tomar a deliciosa limonada da Tia Lide, no lanche da tarde, pão quentinho com manteiga, num grande bulício, pois, muitas vezes havia mais crianças brincando no quintal do vovô.
Havia também um velho pilão do qual eu me agradava demais. Tia Lide fazia paçoca de carne seca, socava temperos cheirosíssimos: sal, cebolinha, salsinha, pimenta do reino e outras ervas finas e aromáticas que serviam de tempero para quase todos os pratos salgados.
Meu querido vovô Pedro Rocha era o chefe daquela troupé. Sua esposa, minha “Dinha”, foi minha segunda mãezinha, assim como as tias Lide e Dirce. Dinha, a dona Cota, a Sra. Maria Arruda Rocha foi a segunda esposa de meu avô com a qual ele teve minha titia Ademilde. Minha mãe Lourdes e meu tio Tito, já falecido, são filhos da primeira esposa dele que morreu de parto deste último.
Minha Dinha e Dirce eram costureiras e Tia Lide lidava com os afazeres domésticos com muito préstimo e dedicação. Elas eram bem humoradas, Dirce gostava de contar “causos” e passagens bíblicas e Tia Lide fazia piadinhas, além da limonada deliciosa da tarde.
Nossa, quase que o curau queimou com as minhas digressões... finalmente o doce ficou pronto e devidamente acomodado em pequenas cuias...ah, poderiam ser maiores... e já íamos avançando nas nossas... Não, meninas, doce quente dá dor de barriga, tem que esperar esfriar. Somente depois do jantar.
Ahhhhhhhhhhhhhhh...............................................................................................................

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