Curau
Que euforia ficávamos, nós, as
crianças, quando Tia Lide e Tia Dirce começavam a descascar as espigas de milho
para fazer o curau. Vestindo seus alvos aventais, era tamanquinho para cá,
tamanquinho para lá: toc...toc....toc... toc...
As duas sentavam-se num banquinho
no quintal, ao lado as bacias: uma para as palhas e outra para as espigas. Eu e
minha titia Ademilde, apenas três anos mais velha que eu, observávamos tudo
atentamente, esperando o melhor momento: queríamos nos encharcar de curau e logo!
Mas aquele processo era demorado.
Depois de devidamente lavadas, as espigas eram raladas , coadas e aí sim ia
para a panela. Processo igualmente demorado. Mexe...mexe...mexe... cuidado,
crianças, saiam de perto que podem se queimar, a fervura solta bolhas muito
quentes.
Eu e titia não contínhamos nossa
ansiedade e ficávamos pulando em volta, querendo experimentar, tentando burlar
quando as titias saíam de perto. O aroma tomava toda a casa, embora a guloseima
estivesse sendo feita no fogão de lenha do quintal, na rua podia se sentir o
cheiro do quitute cozinhando.
As sobremesas, doces em calda,
curau, pamonha, pudins, doces de abóbora com coco, de mamão verde, de batata
doce, enfim, eram cozidos no fogão a lenha, bem como os salgados mais
consistentes como o feijão, a feijoada, bife na chapa, assados, carne de
caçarola...hummmm. O fogão ficava em um
lugar muito aconchegante no quintal, perto de um coarador onde nos sentávamos
para tomar a deliciosa limonada da Tia Lide, no lanche da tarde, pão quentinho
com manteiga, num grande bulício, pois, muitas vezes havia mais crianças
brincando no quintal do vovô.
Havia também um velho pilão do
qual eu me agradava demais. Tia Lide fazia paçoca de carne seca, socava
temperos cheirosíssimos: sal, cebolinha, salsinha, pimenta do reino e outras
ervas finas e aromáticas que serviam de tempero para quase todos os pratos
salgados.
Meu querido vovô Pedro Rocha era
o chefe daquela troupé. Sua esposa, minha “Dinha”, foi minha segunda mãezinha,
assim como as tias Lide e Dirce. Dinha, a dona Cota, a Sra. Maria Arruda Rocha
foi a segunda esposa de meu avô com a qual ele teve minha titia Ademilde. Minha
mãe Lourdes e meu tio Tito, já falecido, são filhos da primeira esposa dele que
morreu de parto deste último.
Minha Dinha e Dirce eram
costureiras e Tia Lide lidava com os afazeres domésticos com muito préstimo e
dedicação. Elas eram bem humoradas, Dirce gostava de contar “causos” e
passagens bíblicas e Tia Lide fazia piadinhas, além da limonada deliciosa da
tarde.
Nossa, quase que o curau queimou
com as minhas digressões... finalmente o doce ficou pronto e devidamente
acomodado em pequenas cuias...ah, poderiam ser maiores... e já íamos avançando
nas nossas... Não, meninas, doce quente dá dor de barriga, tem que esperar
esfriar. Somente depois do jantar.
Ahhhhhhhhhhhhhhh...............................................................................................................
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