Homem
negro x mulher branca/ homem branco x mulher negra
Essas dicotomias funcionam
de maneiras muito distintas. Dando uns passos na linha do tempo, recordamos que
a mulher negra foi o esteio da família (?) negra na sociedade
pós-escravocrata. Ela que fazia
quitutes, lavava, passava, trabalhava de doméstica nos lares brancos, servia de
ama de leite aos pequeninos bebês, cujas mães tinham dificuldade para amamentar
seus rebentos. Dessa maneira, sozinha, a mulher negra sustentava seus filhos,
pois o homem negro estava desempregado, desmoralizado e entregue ao alcoolismo,
segundo antropólogos, historiadores e sociólogos como Florestan Fernandes, Gramsci, Mourão, Lilia Moritz Schwarcz, Kabengelê
Munanga e outros.
Teresinha Bernardo, em sua
obra Memória em branco preto: olhares
sobre São Paulo, descreve a situação de homens e mulheres descendentes de
escravos na São Paulo do começo do século XX, comparando com homens e mulheres
descendentes de imigrantes italianos.
No mesmo cenário, vivia-se
realidades muito diferentes. Enquanto os negros ocupavam o espaço da Rua
Direita, no centro de São Paulo, os brancos faziam “footing” na praça da
República. Mas isso é o de menos. A
família imigrante já desembarcava em solo brasileiro com planos bem definidos.
Os que chegavam primeiro acolhiam os recém-chegados, vivenciando uma
corporatividade sem igual. Era uma luta para que em cada família tivesse um
padre, um médico e, se não me engano, um professor. Fundaram o Brás, iniciaram
fabriquetas de fundo de quintal e, aos fins de semana, quem passeasse pelo
centro da cidade, ouvia mais italiano do que português.
Bernardo relata sobre a
tradição imigrante, as joias da família, os bailes de formatura, enfim, como
começou aqui esse povo que, mais tarde, fez parte de “Paulicéia desvairada”. Já
os descendentes de escravos, na época, lutavam por manter uma tradição a duras
penas, pois as vários manifestações da cultura negra eram proibidas e
perseguidas. Até o carnaval era no Brás sem a presença de pessoas de “pele
escura”.
A “Mãe Preta” alimentou São
Paulo com suas fartas tetas! O homem negro começou a aprumar-se com os empregos
nas estradas de ferro e na Light. A família negra adquire alicerce e, na
terceira metade do século XX, já tínhamos engenheiros, advogados, professores
que continuaram discriminados, afinal os ecos da tese da supremacia racial
(eugenia), reverberavam da Europa para o Brasil.
O bairro Higienópolis foi
criado com o objetivo de “higienizar”, já que se tornou periferia e era a saída
dos negros empurrados pelo progresso a se mudarem cada vez mais longe do
centro. E assim continua até hoje; o mercado imobiliário seleciona.
Os relacionamentos
multirraciais sempre existiram. No caso, o homem branco procurava
relacionamentos lascivos com as negras desde a senzala e continua assim até
hoje! (“Fazer amor de madrugada – em cima da cama, debaixo da escada; amor com
jeito de virada – de noite a patroa, de dia, a empregada”). Sinhazinha também
não resistia a um belo dorso brilhante ao sol dos eitos... a negra perpetuou-se
como “amante” (“a carne mais barata do mercado é a carne negra”), em
contraposição à branca que passou a ser “esposa”. Muitos dos nossos varões,
assim que se viram emancipados, entenderam que não deveriam credenciar sua
própria raça, salvo exceções, quando o amor prevaleceu mesmo.
Atualmente, assistimos a
emancipação econômica de grupos sem instrução que, na verdade, nem se
categorizam como negros, em plena posse de seu “kit”: correntes de ouro no
pescoço, uma loira e uma pajero. Na realidade, existiu uma época em que havia o
tipo “branca para preto”: feia, gorda, burra, muito usada, mas branca!!! ...
A abrangência deste assunto
dá uma tese; aliás, existem várias e quem se interessa pelo assunto e tem
opinião e não “achismos”, que vá direto às fontes fidedignas que tenham
resultados de pesquisas.
Fabília A.R. Carvalho
Mestre em Literatura
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