quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Homem branco x mulher negra/ homem negro x mulher branca


Homem negro x mulher branca/ homem branco x mulher negra

Essas dicotomias funcionam de maneiras muito distintas. Dando uns passos na linha do tempo, recordamos que a mulher negra foi o esteio da família (?) negra na sociedade pós-escravocrata.  Ela que fazia quitutes, lavava, passava, trabalhava de doméstica nos lares brancos, servia de ama de leite aos pequeninos bebês, cujas mães tinham dificuldade para amamentar seus rebentos. Dessa maneira, sozinha, a mulher negra sustentava seus filhos, pois o homem negro estava desempregado, desmoralizado e entregue ao alcoolismo, segundo antropólogos, historiadores e sociólogos como Florestan Fernandes,  Gramsci, Mourão, Lilia Moritz Schwarcz, Kabengelê Munanga e outros.
Teresinha Bernardo, em sua obra Memória em branco preto: olhares sobre São Paulo, descreve a situação de homens e mulheres descendentes de escravos na São Paulo do começo do século XX, comparando com homens e mulheres descendentes de imigrantes italianos.
No mesmo cenário, vivia-se realidades muito diferentes. Enquanto os negros ocupavam o espaço da Rua Direita, no centro de São Paulo, os brancos faziam “footing” na praça da República. Mas isso  é o de menos. A família imigrante já desembarcava em solo brasileiro com planos bem definidos. Os que chegavam primeiro acolhiam os recém-chegados, vivenciando uma corporatividade sem igual. Era uma luta para que em cada família tivesse um padre, um médico e, se não me engano, um professor. Fundaram o Brás, iniciaram fabriquetas de fundo de quintal e, aos fins de semana, quem passeasse pelo centro da cidade, ouvia mais italiano do que português.
Bernardo relata sobre a tradição imigrante, as joias da família, os bailes de formatura, enfim, como começou aqui esse povo que, mais tarde, fez parte de “Paulicéia desvairada”. Já os descendentes de escravos, na época, lutavam por manter uma tradição a duras penas, pois as vários manifestações da cultura negra eram proibidas e perseguidas. Até o carnaval era no Brás sem a presença de pessoas de “pele escura”.
A “Mãe Preta” alimentou São Paulo com suas fartas tetas! O homem negro começou a aprumar-se com os empregos nas estradas de ferro e na Light. A família negra adquire alicerce e, na terceira metade do século XX, já tínhamos engenheiros, advogados, professores que continuaram discriminados, afinal os ecos da tese da supremacia racial (eugenia), reverberavam da Europa para o Brasil.
O bairro Higienópolis foi criado com o objetivo de “higienizar”, já que se tornou periferia e era a saída dos negros empurrados pelo progresso a se mudarem cada vez mais longe do centro. E assim continua até hoje; o mercado imobiliário seleciona.
Os relacionamentos multirraciais sempre existiram. No caso, o homem branco procurava relacionamentos lascivos com as negras desde a senzala e continua assim até hoje! (“Fazer amor de madrugada – em cima da cama, debaixo da escada; amor com jeito de virada – de noite a patroa, de dia, a empregada”). Sinhazinha também não resistia a um belo dorso brilhante ao sol dos eitos... a negra perpetuou-se como “amante” (“a carne mais barata do mercado é a carne negra”), em contraposição à branca que passou a ser “esposa”. Muitos dos nossos varões, assim que se viram emancipados, entenderam que não deveriam credenciar sua própria raça, salvo exceções, quando o amor prevaleceu mesmo.
Atualmente, assistimos a emancipação econômica de grupos sem instrução que, na verdade, nem se categorizam como negros, em plena posse de seu “kit”: correntes de ouro no pescoço, uma loira e uma pajero. Na realidade, existiu uma época em que havia o tipo “branca para preto”: feia, gorda, burra, muito usada,  mas branca!!! ...
A abrangência deste assunto dá uma tese; aliás, existem várias e quem se interessa pelo assunto e tem opinião e não “achismos”, que vá direto às fontes fidedignas que tenham resultados de pesquisas.
Fabília A.R. Carvalho
Mestre em Literatura

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