quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cunversa de sertanejo





Cunversa de sertanejo

Tomava uma cachaça num botequinho rústico, luz de lamparina e chão de terra. Àquelas horas da noite, a sinistra cidade já dormia em meio à neblina.
Papo vai, papo vem, cachaça vai, cachaça vem, ouvi uma estória que me colocou alerta.
“Uma vez, meu pai pegou  ‘um’  cascavel, enfiou dentro de um saco e dipindurô no teto da cuzinha. Tudas tarde, quando chegava da mata, pegava  de um pedaço de pau e batia no cascavel. O cascavel, perto da hora de meu pai chegá, já começava a si mexê agitado dentro do saco.”
Fiquei pensando, porque “o” cascavel; mas, é claro, um réptil tão perigoso assim, tão temido, não poderia ser “a”... questão de gênero e de ideologia; o masculino é sempre mais forte. Semanticamente, o gênero é tão relevante ao idioma que, para as línguas que não possuem neutro, fica complicada a classificação das coisas. Por exemplo, em francês, o mar é “la mer”; para o português um mar feminino perde todo o sentido natural, místico e poético.
“Mas porque seu pai batia assim no cascavel?”
“Pra ele dexá de sê mau. Depois de um bom tempo, meu pai soltô o cascavel, que saiu nas carrera. Apostu que aquele nunca mais ia mordê ninguém”.
Tomei mais um gole de cachaça e respirei fundo.

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