segunda-feira, 9 de abril de 2012

O SÃO JOÃO DO NORDESTE


O São João do Nordeste
Quando vai chegando os meados de maio, as cidades nordestinas começam a pegar fogo preparando as festas do santos. No meu primeiro ano, não entendi nada, ou não me dei conta da relevância dos eventos.
Pensava: Mas que raio é esse? Na Faculdade, todos os funcionários vestidos à caráter durante todo o expediente; no comércio, a mesma coisa. E bandeirolas de plástico coloridas em todas as ruas da cidade nas mais originais montagens.
Em Sergipe, cada cidade tem uma atração em dias diferentes que é para o povo poder participar de todos os shows. É, shows de bandas famosas de forró, de axé e um tradicional concurso de quadrilhas que passei a apreciar demais.
Na cidadezinha que lecionava foi minha primeira vez. Confesso que eram meio aterradoras aquelas fogueiras verticais em frente a cada casa,  como uma grande vela a serração iluminando a serração. Isso porque a cidade era alta e no inverno sempre havia “fog”, oferecendo-lhe um aspecto europeizado. Uma cidade fria a 110 km do Atlântico! E de europeia, só tinha mesmo as brumas!
A noite de São João é comemorada pelas famílias reunidas como se fosse Natal ou Ano Novo. Festão com comidas típicas e muitos licores caseiros. Não podem faltar o delicioso caranguejo ou o guaiamum, caldo de feijão, caldinhos de sururu, aratu, camarão, ostra, frutos do mar;  moquecas de arraia, de peixe com muita farinha e bem apimentadas, mingau de puba, munguzá, canjica, pé-de-moleque,  pamonha, curau, doce de abóbora, cocadas,  biscoitinhos de goma; mocotó, caruru, vatapá, pirão de capão, espetinhos, pitu, cuscuz, queijo coalho, frios, carnes, peixes e até a tradicional e nutritiva carne de bode cujas podem ser servidas  tripas fritas como tira-gosto.  Não pode faltar também a “fatada”: bucho de bode costurado com os miúdos dentro e cabeça de carneiro. Tradicionais as tapiocas recheadas, doce e salgadas, muito deliciosas.
A variação linguística causa confusão: munguzá é canjica;  canjica é curau; pé-de-moleque não tem nada a ver... frango é galinha e galinha caipira é “galinha de capoeira”; carne de vaca é carne de boi e por aí afora....
Existe uma entrada de São João um pouco insólita em uma das cidades sergipanas: a noite da Silibrina! Nesse dia, as escolas soltam as crianças mais cedo, trancam-se as portas e um cenário de guerra domina todos os cantos. Os jovens protegem-se,  enrolando-se em muitos panos e saem com suas motos estourando e jogando bombas em quem pegar. Saem muitos queimados, mas eles gostam. Alguns chegam a ficar mutilados, mas gostam.
Celebração interessante são as barcas de fogo em Estância. É uma arte, não machuca ninguém, é saudável e  gostoso de se ver, saboreando os petiscos joaninos.
Na capital, Aracaju, acontecem os shows na praça de eventos, com muitas barraquinhas vendendo artesanato, roupas, guloseimas juninas. Geralmente, chove, mas a chuva não é empecilho para quer o povo fique entusiasmado e se entregue ao som da zabumba, do pandeiro e da sanfona.
PAMRAMRAMRAMPARAMPARAMPARAMPARARARARAM... e a chuva caindo... o licorzinho rolando... os pares quebrando a cintura na dança.... crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas especiais, deficientes, ninguém resiste à dança mais popular do Nordeste. Tudo isso com uma suave brisa marinha a dar um toque eólico  possidônico ao evento.
 Esse frenesi vai do final de maio até os primeiros dias de agosto, culminando com a noite de São João, quando, antes de irem para a rua, as famílias se confraternizam em casa com amigos. Há que se notar uma adolescente com a face esbraseada do licor de jenipapo, permitido pelos pais nessa época. Aliás, elas aproveitam e se jogam mesmo, trocam receitas de licores artesanais, fazem marula e cheias de si, levam à escola para compartilhar, presentear e barganhar.


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