sábado, 14 de abril de 2012

Eólo apaixonado


 EÓLO APAIXONADO

Eólo observando encantado
Bela adormecida desnuda
Acaricia-lhe a pele com sua brisa

Preta Fá

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O SÃO JOÃO DO NORDESTE


O São João do Nordeste
Quando vai chegando os meados de maio, as cidades nordestinas começam a pegar fogo preparando as festas do santos. No meu primeiro ano, não entendi nada, ou não me dei conta da relevância dos eventos.
Pensava: Mas que raio é esse? Na Faculdade, todos os funcionários vestidos à caráter durante todo o expediente; no comércio, a mesma coisa. E bandeirolas de plástico coloridas em todas as ruas da cidade nas mais originais montagens.
Em Sergipe, cada cidade tem uma atração em dias diferentes que é para o povo poder participar de todos os shows. É, shows de bandas famosas de forró, de axé e um tradicional concurso de quadrilhas que passei a apreciar demais.
Na cidadezinha que lecionava foi minha primeira vez. Confesso que eram meio aterradoras aquelas fogueiras verticais em frente a cada casa,  como uma grande vela a serração iluminando a serração. Isso porque a cidade era alta e no inverno sempre havia “fog”, oferecendo-lhe um aspecto europeizado. Uma cidade fria a 110 km do Atlântico! E de europeia, só tinha mesmo as brumas!
A noite de São João é comemorada pelas famílias reunidas como se fosse Natal ou Ano Novo. Festão com comidas típicas e muitos licores caseiros. Não podem faltar o delicioso caranguejo ou o guaiamum, caldo de feijão, caldinhos de sururu, aratu, camarão, ostra, frutos do mar;  moquecas de arraia, de peixe com muita farinha e bem apimentadas, mingau de puba, munguzá, canjica, pé-de-moleque,  pamonha, curau, doce de abóbora, cocadas,  biscoitinhos de goma; mocotó, caruru, vatapá, pirão de capão, espetinhos, pitu, cuscuz, queijo coalho, frios, carnes, peixes e até a tradicional e nutritiva carne de bode cujas podem ser servidas  tripas fritas como tira-gosto.  Não pode faltar também a “fatada”: bucho de bode costurado com os miúdos dentro e cabeça de carneiro. Tradicionais as tapiocas recheadas, doce e salgadas, muito deliciosas.
A variação linguística causa confusão: munguzá é canjica;  canjica é curau; pé-de-moleque não tem nada a ver... frango é galinha e galinha caipira é “galinha de capoeira”; carne de vaca é carne de boi e por aí afora....
Existe uma entrada de São João um pouco insólita em uma das cidades sergipanas: a noite da Silibrina! Nesse dia, as escolas soltam as crianças mais cedo, trancam-se as portas e um cenário de guerra domina todos os cantos. Os jovens protegem-se,  enrolando-se em muitos panos e saem com suas motos estourando e jogando bombas em quem pegar. Saem muitos queimados, mas eles gostam. Alguns chegam a ficar mutilados, mas gostam.
Celebração interessante são as barcas de fogo em Estância. É uma arte, não machuca ninguém, é saudável e  gostoso de se ver, saboreando os petiscos joaninos.
Na capital, Aracaju, acontecem os shows na praça de eventos, com muitas barraquinhas vendendo artesanato, roupas, guloseimas juninas. Geralmente, chove, mas a chuva não é empecilho para quer o povo fique entusiasmado e se entregue ao som da zabumba, do pandeiro e da sanfona.
PAMRAMRAMRAMPARAMPARAMPARAMPARARARARAM... e a chuva caindo... o licorzinho rolando... os pares quebrando a cintura na dança.... crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas especiais, deficientes, ninguém resiste à dança mais popular do Nordeste. Tudo isso com uma suave brisa marinha a dar um toque eólico  possidônico ao evento.
 Esse frenesi vai do final de maio até os primeiros dias de agosto, culminando com a noite de São João, quando, antes de irem para a rua, as famílias se confraternizam em casa com amigos. Há que se notar uma adolescente com a face esbraseada do licor de jenipapo, permitido pelos pais nessa época. Aliás, elas aproveitam e se jogam mesmo, trocam receitas de licores artesanais, fazem marula e cheias de si, levam à escola para compartilhar, presentear e barganhar.


VACAS MAGRAS


Carregam as  suas dores sozinhos
Nem  as paredes querem ouvir
Queixumes  desesperados lamentos

No tempo das vacas gordas formosas
Casa cheia de gente cheirosa rindo
Comendo beijando bebendo dançando

Vacas  magras chegaram vagarosas
Envergonhadas de cabeça baixa
Os badalos velhos e enferrujados

Ossos saltando sob a pele flácida
Escaras abertas no couro seco
Enfermidade explícita no olhar

A turba eufórica foge medrosa
Das vacas magras  indesejáveis
Vai em busca de efêmeros sonhos

A turba eufórica foge impiedosa
Sente o cheiro do torpe infortúnio
Vai em busca de fugidia insensatez

Enquanto os desassombrados
Observam  a agitação humana
Enveredando-se  na contra-mão
Epicuro reina soberano e destemido
Dioniso e Pan gargalham maliciosos
A turba alienada suga as vacas gordas

Ontem vacas gordas, hoje magras
Lamentam suas inesperadas desditas
Ainda que para apáticas paredes surdas

Preta Fá