sábado, 25 de abril de 2009

Nestes dias, tenho corrido com a organização da I Semana de Letras da Faculdade. Os cartazes e os fôlderes, depois de muita pesquisa, ficaram prontos. Optei pelo tema "Língua, literatura e arte: olhares que se entrecruzam" com foco no ethos regional para que os participantes possam expor seus trabalhos dentro dos eixos temáticos, articulando-os à língua, à literatura e à arte. Escolhi como imagem representativa da Semana, uma obra de Volpi, Bandeiras e Mastros que, à primeira vista pode não parecer coerente, porém está relacionada à região que atualmente habito, o nordeste. E é aqui que a Semana foi gestada e está tomando corpo. Além de tudo, Volpi está ligado a lembranças gratas. A primeira vez que vi uma obra desse artista foi na casa de um amigo que era líder de movimento estudantil, nos anos de repressão. Fez parte do começo do meu despertar, que envolveu optar entre Roberto Carlos e Vandré; descobrir e desvendar Ulysses, de Joyce... portanto, toda a minha subjetividade na escolha da arte para ilustrar o cartaz da Semana que organizo. La crème de la crème está nos ensaios de Medéia! Todos amadores, porém ousados e corajosos a ponto de levar ao palco uma adaptação da tragédia de Eurípedes. Os anos de grego que estudei na UNESP de Araraquara (salve querida Celeste!) acompanham minha carreira.
Os alunos de Teoria Literária da Faculdade estão pesquisando bastante e creio estar plantando boas sementes. Claro que o espetáculo será de amadores, mas daremos o nosso melhor. Vou para o palco também não só por insistência dos alunos. Porque gosto mesmo.
Vou apresentar também uma comunicação oral "O ethos racista no discurso lobatiano: uma questão de estilo", artigo que veio à luz com dores, cuja gestação ultrapassou o tempo de espera, porém, de repente, num insight, sentei e escrevi. Aproveito para me redimir junto ao companheiro Lobato. Nada como mais quase dez anos de estudos após a dissertação de Mestrado, para poder aparar as arestas daquela pesquisa. Entre outras, a obra de Norma Dsicini, O estilo no texto, conduziu-me a uma nova visão sobre estilística. Vou postar o resumo do artigo aqui em outra ocasião.
Toda essa preparação me deixa inquieta como gosto de estar.
Finalmente, a versão final do cartaz da I SEMANA DE LETRAS DA FACULDADE SÃO LUÍS DE FRANÇA, da qual sou Coordenadora do Curso de Letras.




domingo, 19 de abril de 2009

E-mail que mandei a um amiga muito querida

Ontem à noite, durante a nossa conversa sobre o evento de Letras percebi alguma perplexidade no seu olhar perante as minhas opções artísticas. Já num outro dia, você disse que "Clarice Lispector não foi amada". São equívocos que cometem as pessoas que não são da área de Letras. Normal. Porém, diante da proximidade que tenho contigo, tomo a liberdade de esclarecer-lhe alguns aspectos referentes à Literatura, que fazem parte da teoria, pensada, debatida, sistematizada e colocada em prática por estudiosos e pesquisadores. 1. A Literatura é ciência porque seu estudo envolve um método com hipóteses a serem levantadas que conduzem a uma pesquisa empírica.
2. A Literatura é arte e cultura porque é o resultado de uma criação estética realizada por um sujeito situado numa grade ideológica, e por ser obra subjetiva não precisa ser realidade.
3. A Literatura, enquanto linguagem artística e como qualquer outra linguagem artística nos conclama a refletir sobre a realidade que nos rodeia de uma forma muito mais profunda, justamente pela sua característica "estética". Aristóteles chamava essa vivência da realidade através da arte de "catarse". Observe, Clarice é tão boa em seu "fingimento estético" que leva as pessoas a pensarem que ela não foi amada. Jamais poderemos confundir criação e criatura quando se trata de arte. Temos o exemplo de Fernando Pessoa e seus heterônimos, cada um com uma personalidade e, essencialmente, com um estilo diferente. Ou, sendo mais popular, Chico Buarque escreve letras em que é "mulher", lembra... "ai, que esse cara tem me consumido (...) ele é um homem e eu sou apenas uma mulher". E é Fernando Pessoa mesmo que nos auxilia a compreender a natureza da criação literária dizendo que "o poeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente".
Poderia escrever aqui um ensaio, baseada na teoria que grandes mestres escreveram sobre a Literatura. Nada disso é "achismo". Quando escolhi "Poética", de Manuel Bandeira, para o evento, não foi sem fundamento. Esse poema marca a primeira fase do movimento modernista no Brasil, considerado demolidor porque provoca ruptura com os cânones clássicos. Isso não significa excluir a tradição literária; é um estilo que enriquece a arte de uma maneira ímpar; nunca houve na arte em geral, movimento tão marcante como o modernismo, cujas vanguardas, chamadas vanguardas europeias estremeceram o mundo entre as duas guerras do século XX. É quando entram no cenário os abstratos, quando as linguagens artísticas trouxeram novidades jamais pensadas... Münch, Dali, Picasso, Tarsila, Anita Malfatti etc, lembra? As palavras irreverentes do eu-lírico de "Poética" correspondem ao desarranjo musical de Villa Lobos, em algumas composições, a não-simetria das linhas nos quadros abstratos... um estilo e uma ideologia. Qual ideologia? As vanguardas europeias (Dadaísmo, Surrealismo, Cubismo, Expressionismo, Futurismo) representam uma reação dos artistas ao tecnicismo do mundo moderno, uma reação à doutrina do "lucro". Como produzir Monalisa em série???Sim, minha querida, você também me perguntou se eu não gostava do "lirismo"... lirismo, essa palavra é polissêmica e pode ter um sentido para você e outro sentido para mim que "lido" com literatura. O lirismo relaciona-se ao gênero lírico, em suma, à poesia por si e em si, portanto está tanto em Maiakovisky, com seus poemas de resistência na época da Revolução Russa de 1917, como em Castro ALves, como no parnasiano Bilac ("porque só quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas"). Gosto do lirismo de todos esses poetas.
Veja quanta riqueza! Sim, Antonio Candido (sem acento mesmo), nosso maior crítico literário vivo, uma sumidade, tem, entre outras, uma obra que se chama "Literatura e Sociedade", cujo viés costumo adotar nas minhas interpretações. O estudioso aborda a questão da função da literatura e, com muita propriedade, afirma que a literatura "humaniza", torna-nos mais humanos, mais reflexivos sobre a vida e suas alegrias e suas tristezas. O filtro que o artista faz da realidade nos enriquece. Sempre. Mas nem sempre é a verdade dele, do artista. Venha fazer Letras!
bjoooooo,
Fabília

Inquietação

A inquietação, principalmente, levou-me a criar esse blog. Já estava passando da hora mesmo. Mas, podem me perguntar, inquietação com o quê? E eu respondo: como um ser vivente neste século XXI pode não estar inquieto? São muitas... a que move a minha vida é justamente a inquietação com a vida. Ainda ontem dizia para minha filha "Tudo bem, não fosse a morte"... sem comentários. Essa frase é para quem a entende sem maiores detalhes. Mas, é justamente esse sentimento que no conduz a grandes empreitadas. Aposto que os grandes conquistadores da História eram inquietíssimos. Que os grandes pensadores idem. Imaginem o despertar de Niestzche, as madrugadas de Brecht, o meio-dia de Claude Monet. Difícíl é ficar calada porque "o momento exige", porque "obedece quem tem juízo", porque "em terra de cego quem tem um olho manda"... bem, escolhi "significações" para nome do blog só porque considero "sentidos" vazio de sentido; significações porque incessantemente imprimimos sentidos às coisas da vida, coisitas estas que irão materializar-se nos meus textos e dos meus interculotures. O espaço está aberto, inaugurado, corta-se a fita e vamos nós entrando em um lugar vazio porém iluminado onde a enunciação ainda está para ser enunciada; as formações ideológicas pairam aguardando o discurso. Quem começa?